Ir para o conteúdo
-
PERNIL
Publicado em 15.04.06
Certo dia, o marido chega à cozinha exatamente no momento em que a esposa está retirando o pernil do fogão.
Então, o marido observa e pergunta.
– Bem, tenho observado que sempre que você assa o pernil, você dá um corte na junta do osso e o dobra para dentro da fôrma. Por quê?
– Não sei, amor! Mas foi assim que a minha mãe me ensinou.
Tão logo acabara de responder, a sua mãe também chegou à cozinha.
A filha, um pouco embaraçada diante do marido, quis uma explicação a respeito do detalhe.
– Mãe, por que a senhora me ensinou a assar o pernil, cortando o ossinho e dobrando-o para dentro da fôrma?
– Não sei, filha! A sua avó me ensinou assim.
Agora, a curiosidade dos três estava mais aguçada e, nada melhor do que esclarecer a questão junto à vovó, que estava a fazer tricô lá na varanda.
– Vó, por que a senhora ensinou à minha mãe a assar o pernil, cortando o ossinho e dobrando-o para dentro da fôrma?
– Sabe, minha netinha, naquela época as fôrmas eram muito pequenas. Logo, para o pernil ficar assado por completo eu tinha que fazer assim. Hoje, porém, as fôrmas são bem maiores. Portanto não se justifica mais cortar o pernil.
O marido ensina que a compreensão nasce da observação e do questionamento.
Portanto, viver sem observar e indagar é continuar cortando o pernil sem necessidade.
Talvez grande parcela da insatisfação das pessoas e alguns fracassos individuais, familiares e profissionais estejam correlacionados à repetição de atitudes e comportamentos, sem a observação e o questionamento imprescindíveis às mudanças.
Parece mais inteligente assumir a árdua tarefa do comando da própria vida a deixar-se levar pela cômoda e doce manipulação.
Como você está vivendo?
Sebastião Saraiva
Médico e Holósofo