Holocoluna – 0082

  1. O APEGO

Publicado em 29/03/2008

 

O ciclo da vida é incessante, e guarda consigo profunda beleza.

O nascimento de uma criança é um acontecimento que felicita a todos e enriquece o mundo. É verdade, enriquece mesmo.

A maior e autêntica riqueza universal é a vida, uma reafirmação do milagre que mais encanta a humanidade, por isso, objeto de inspiração da emoção estética dos poetas e de investigação da ciência.

O fenômeno vida é a doce maravilha que desafio à imaginação do homem, tanto para compreendê-la quanto para preservá-la e vivê-la.

A vida é singular na sua essência, mas é plural na sua existência. A vida do recém-nascido consiste nas vidas de suas células, portanto, são bilhões de vidas manifestadas em uma única vida. Que lindo!

O homem primitivo, talvez, pelo fato de ter estado focado na busca dos meios de sua subsistência, não lhe tenha sido possível refletir a respeito da vida dessa forma. O que é compreensível.

O homem moderno, talvez, por se encontrar refém da ganância pelo acúmulo de bens materiais, não tenha se encontrado como ser vivente, mas como máquina cumulativa de patrimônio. O que é uma pena.

Reconhecer a vida como vida é uma felicidade. A felicidade é um sentimento que brota no interior da pessoa, é uma sensação de sintonia, de integração com o Universo. Esta sensação parece confirmar a presença do filho diante da Força Criadora, diante do Pai. Nesse instante acontece a entrega. Os dois se unificam.

O apego é um aferro excessivo. O indivíduo manifesta excessiva afeição à posse, estabelecendo uma situação de prisão a outras pessoas ou a bens materiais.

Imagine como deve se sentir uma criatura que passou a vida (não vivendo) amontoando patrimônios, na certeza de que este é verdadeiro sentido da sua existência, ao perder uma mínima parcela do que acumulou.

Dependendo da intensidade do apego, a pessoa pode contrair doenças – hipertensão arterial, acidente vascular cerebral, tristeza extrema (depressão), distúrbios de comportamento – tornar-se agressiva e, até, cometer suicídio. O Apego subestima a vida, infelizmente.

O apego, pelos seus desdobramentos prejudiciais a uma vida saudável, deve ser evitado. Como ele é um hábito que se desenvolve e se fortalece de forma sutil, há de se ficar atento para os primeiros sinais da sua presença e, quando já instalado deve ser tratado.

Os primeiros sinais do apego estão nas dificuldades em partilhar parte dos bens com alguém em situação de reconhecida necessidade, ou guardar aquilo que já não utiliza.

O tratamento do apego consiste na determinação de praticar doações regulares a quem necessita, mais no aspecto social que individual. Assim, além de educativo, serve a muitos.

O desapego será reconhecido no sentimento de felicidade que brotará no coração a cada ato de entrega do bem, que também é sua. Nessas entregas a unificação acontece.

Sebastião Saraiva

Médico e Holósofo

Site: www.holosofia.com.br