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CUMPLICIDADE
Publicado em 08/03/2008
O homem é um animal social, isto é, vive em sociedade. Logo, ninguém consegue viver isoladamente.
Nós nascemos dentro de uma pequena sociedade, que é a nossa família. Depois, vamos para a escola, uma outra sociedade. Mais tarde entramos para o mercado de trabalho, e lá estamos nós noutra sociedade. Finalmente, casamos e, com o(a) nosso(a) companheiro(a), formamos uma sociedade também, fechando-se, assim, o ciclo da formação de sociedades.
As inúmeras pequenas sociedades se unem e formam a grande sociedade, a sociedade a que, comumente, nos referimos.
Viver harmonicamente em sociedade implica em normas de comportamento necessárias à boa convivência, e, de forma implícita, exige cumplicidade.
Considerando a família como a nossa primeira sociedade, é justamente aí que aprendemos a reconhecer a cumplicidade como virtude de sustentação das relações.
O casal deve cultivar considerável parcela de cumplicidade, tanto em casa quanto em outras sociedades.
Aquilo que o pai decidir em determinado momento será validado pela mãe, mesmo que esta não esteja de acordo, e vice-versa. Posteriormente, o casal poderá retomar o tema e discutir em particular, mas para os filhos a decisão inicial prevalecerá. Esta postura de respeito mútuo consolidará a união do casal e comunicará aos filhos a firmeza e a segurança que eles tanto necessitam para a sua formação.
Em ambientes alheios ao lar, cada membro do casal deverá ter o cuidado de preservar a imagem um do outro, pois a ninguém interessa compartilhar intimidades.
No campo profissional, os colegas que desenvolvem a cumplicidade estão em situação privilegiada, uma vez que a mesma gera um clima de confiança recíproca capaz de deixar fluir as potencialidades individuais, rendendo melhores resultados.
É importante ressaltar que no presente contexto cumplicidade não é o mesmo que corporativismo nem compactuar com maus feitos, mas tão somente consubstanciar de forma ética a postura correta do outro.
Quando presenciamos pais, apressadamente, procurando tirar satisfações com professores pelo fato de o aluno ter sido repreendido por haver cometido um ato inadequado, identificamos aí a falta de cumplicidade dos pais para com a escola, uma instituição alinhada com os princípios educacionais almejados, consciente ou inconscientemente, pelos pais, portanto, uma aliada no processo educacional do filho.
O ideal é que os pais, diante das queixas dos filhos, ratifiquem a posição do professor, prometendo-lhe voltar ao assunto depois de conversar, cordialmente com a escola. Dessa forma o filho reconhece o respeito dos pais para consigo e para a escola, o que parece plenamente educativo, ético e justo.
Num mundo onde tudo acontece de modo muito rápido e onde a sociedade familiar se ressente da presença dos pais, e os filhos carecem de limites, há de se contemplar a cumplicidade como “liga” indispensável na obtenção das boas relações nas diferentes modalidades de sociedade.
Sebastião Saraiva
Médico e Holósofo