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HUMILDADE
Publicado em 23/02/2008
Certa vez chegou ao mosteiro um jovem para se tornar monge. O jovem era de família rica, mas admirava a vida de ermitão.
No primeiro momento o recém-chegado se apresenta ao mestre e fala da sua disposição em se juntar aos demais discípulos.
Então, o mestre sugere que o rapaz execute a limpeza dos banheiros como a sua primeira atividade rumo ao objetivo proposto.
O jovem, ao adentrar o recinto próprio para a realização das necessidades fisiológicas, se vê numa situação extremamente constrangedora para a sua condição de pessoa bem sucedida, pois, além do mau cheiro e da pouca higiene local, encontra ali apenas água e uma vassoura quase sem pêlos, e, mesmo assim, com o cabo quebrado, o que lhe obrigaria a se curvar sobre a sujeira enquanto limpasse.
O rapaz pensa duas vezes, e resolve ir até o mestre para expor o seu ponto de vista.
– Mestre, desculpe, mas eu gostaria de executar uma tarefa de nível melhor. Sinceramente, não estou preparado para trabalhos desta natureza.
– Então volte para casa, este não é o seu momento. Se você ainda não se acha preparado para uma simples limpeza de banheiros, como poderia estar preparado para se tornar um discípulo?
Infelizmente, as pessoas, quase sempre, estão focadas nos resultados finais e esquecem o longo e tortuoso caminho a percorrer.
A posição de mestre é bonita, admirável e sedutora, pois passa a idéia de alguém que consegue equacionar os problemas da vida e desfrutar a felicidade de forma tranqüila e serena. E isto é verdade. Só que para isso o mestre transcendeu grandes obstáculos. Não obstáculos externos e identificáveis racionalmente, mas obstáculos interiores armazenados, inconscientemente, ao longo da vida.
Dentre os grandes obstáculos para o crescimento interior estão a arrogância e a prepotência; a primeira decorre do orgulho excessivo, e a segunda do sentir-se com poder.
Contudo, a humildade, como as demais virtudes, é possível aprender conscientemente, desde que haja boa vontade e determinação.
O exercício da humildade é uma experiência edificante, e requer a renúncia de muitos “valores” concebidos pela maioria das pessoas de todas as sociedades do mundo.
O exemplo maior de humildade está em Jesus, especialmente nos últimos minutos da sua crucificação, quando assim se expressou: “Oh Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem.”
Com estas palavras, Jesus não quis simplesmente ressaltar a sua humildade consciente, mas, principalmente, demonstrar que o amor ao próximo tem na humildade a sua única e verdadeira fonte.
Sebastião Saraiva
Médico e Holósofo