Ir para o conteúdo
-
O ADOLESCENTE
Publicado em 17/11/2007
Toda aquela bagagem de carinho, atenção e respeito fornecida à criança, foi internalizada e tornou-se um valioso patrimônio existencial, e agora será repassada para o adolescente. Foi isso que concluímos no artigo passado – A Criança.
O adolescente é uma pessoa que, na viagem da vida, encontra-se no trecho de maiores turbulências, tanto interna como externamente.
As turbulências internas são produzidas pela avalanche dos hormônios necessários à travessia rumo à idade adulta.
As alterações fisiológicas decorrentes da presença hormonal fazem com que o adolescente se sinta um estranho de si mesmo. O crescimento parece acelerado, o corpo ganha formas diferentes, os pelos axilares e pubianos chamam a atenção, as mamas adquirem volumes avantajados – no adolescente, logo se normalizam, na adolescente, tende a crescer – a voz apresenta um timbre característico, as espinhas na face se manifestam e surge uma cara nova.
Tudo isso contribui para introduzir o adolescente a uma situação desconhecida, a começar pelo chão movediço da relação amorosa, uma aventura da qual jamais se libertará. O adulto e o idoso sabem que isso é verdade.
O adolescente se comporta como se fosse um carro-pipa desejoso em abastecer a todos com a sua carga hormonal. Ele se acha o dono da verdade, por isso questiona tanto; ele ostenta muito poder, por isso quer resolver tudo, e na hora; ele se vê encantador, por isso quer seduzir; ele se imagina grande, por isso quer ser adulto.
Por outro lado, o adolescente, também, se sente confuso, por isso a insegurança, a timidez, a introspecção.
Com tantas mudanças internas, o mundo externo também se transforma. Então, o adolescente percebe-se pressionado a se posicionar de forma diferente daquela a que a criança estava acostumada. É aí que ele busca uma estratégia própria para se proteger; ele procura os seus iguais, ele procura se agrupar a outros adolescentes. Eles assumem a postura das ovelhas, vivem em rebanhos. Talvez, por isso, seja importante o “pastor” ficar atento!
Em alguns momentos o adolescente percebe o mundo como algo a ser conquistado, como um desafio a ser encarado, por isso se aventura sem muita cautela. Daí a necessidade de um suporte psicológico, o que se traduz por mais atenção e muitos diálogos.
As turbulências externas são representadas pelas relações humanas pouco cordiais e nada fraternas no mundo da maioria dos adultos. Há uma verdadeira carência de carinho, atenção e respeito entre eles. Por isso, o adolescente sem a bagagem inicialmente mencionada, fica à deriva, tornando-se presa fácil nas mãos desses adultos, também carentes, por isso, pessoas más, inconscientemente. Pessoas más para elas e para o adolescente.
O adolescente, por tudo que passa, merece compreensão e tratamento diferenciado. Por tudo que representa, merece mais carinho, atenção e respeito, mas com firmeza. Muita firmeza.
O adolescente é uma criatura especial!
Sebastião Saraiva
Médico e Holósofo