Holocoluna – 0059

  1. O ALUNO

Publicado em 08/09/2007

 

O ser humano nasce e morre aprendendo. Logo, todos nós somos alunos.

O espermatozóide aprende a esperar o momento certo para se encaminhar ao útero e prosseguir viagem através das trompas até encontrar o óvulo, momento em que aprende que o processo de fecundação necessita apenas da sua cabeça, dispensando a cauda.

O ovo, unidade vital formada pela fusão dos gametas masculino e feminino, quando não aprende que o local adequado da sua nidação é a cavidade uterina provoca a indesejada e desastrosa prenhez ectópica. Essa realidade exige intervenção cirúrgica imediata, pois o médico aprendeu que tal situação põe em risco a vida da gestante.

O embrião normalmente implantado aprende que deve se valer dos nutrientes maternos para se transformar em feto, o ser humano já plenamente formado.

O feto aprende que a expansão progressiva do útero é um propósito da natureza para lhe permitir a hidroginástica, exercício necessário ao seu crescimento. Mas com o tempo, ele também aprende que tudo tem limite, por isso aceita ser expulso em silêncio. O choro pós-natal denuncia o seu descontentamento pela saída da zona-de-conforto, mas anuncia um novo aprendizado, o da semi-interdependência. Antes, pura dependência.

O recém-nascido aprende que a sua vida só será possível com a iniciativa do respirar, chorar e sugar. Ele continuará aprendendo natural e inconscientemente até que alguém – geralmente a mãe – entenda que a partir de então deverá aprender de forma acelerada, quase sempre forçada, pois ainda não aprendeu que deve aprender de tal forma.

A criança aprende que o processo acelerado do aprender acontece em locais próprios – escolas – e em grupo, tornando-se aluna. Como não aprendeu o significado desta palavra, ela se revolta e resiste em se unir aos colegas, chorando para retornar ao lar.

Contudo, mais tarde ela aprende que o resultado desse choro não surte o mesmo efeito do choro pós-natal. Lá recebeu o leite, aqui palavras. Agora, ela aprende a se consolar com os argumentos da mamãe e da professora.

A mãe aprende a combinar o conflito da separação com o reconhecimento de que o filho precisa aprender; a professora aprende a ser indiferente ao choro apelativo do aluno porque aprende que o aprender é necessário; e o aluno aprende que a escola é inevitável.

A experiência da vida grupal – escolar – imposta pelo aprender oferece ao aluno uma referência de comparação com o ambiente de aprendizado familiar.

Na escola o indivíduo é aluno e aprende, além das disciplinas curriculares, novas ações e reações com pessoas semelhantes, na idade, no tamanho e no nível de compreensão do mundo; em casa ele é filho e é levado a aprender a fixar os modelos comportamentais de pessoas – pai, mãe e parentes – diferentes, na idade, no tamanho e no nível de compreensão do mundo.

Portanto, aprender essas sutilezas demanda esforço, consciência, equilíbrio, maturidade, paciência, determinação, tempo e boa vontade. Isto é, saúde plena ou saudena!

Aprender essas sutilezas, tanto os alunos-alunos, como os alunos-pais e os alunos-professores, resultará no aprender a ter prazer pelo aprender, culminando com menor número de evasões, maior percentual de formados e enobrecimento do aluno. Nobre aluno!

Sebastião Saraiva

Médico e Holósofo