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X CAPÍTULO – FALTA DE APETITE
Publicado em 12/05/2007
A falta de apetite se constitui na mais freqüente queixa das mães, no consultório de pediatria.
Inicialmente, por questão de justiça, convém explicar que tal comportamento é universal, ou seja, as mães do mundo inteiro externam grande preocupação diante do menor sinal de pouca aceitação alimentar do seu filho.
Esta é uma questão psicológica perene; ela se deve ao fato da mãe ter sido responsável direta, embora de forma involuntária, pela nutrição da criança (feto) ao longo do período gestacional, através do cordão umbilical, tendo esta responsabilidade se continuado, agora, por decisão pessoal, após o nascimento, num primeiro momento, através da amamentação, e, mais tarde, pelo preparo adequado da alimentação nas diferentes etapas evolutivas do próprio.
Portanto, este sentimento de prover o filho como ferramenta de garantia da continuidade da vida tende a se perpetuar. A mãe vê materializada a manutenção da vida de sua cria mediante a aceitação plena de tudo aquilo que lhe é oferecido como alimento.
Contudo, a exacerbação da preocupação com a falta de apetite, especialmente quando ela não existe, pode significar sentimento de culpa em relação à vitalidade da criança em algum momento da gravidez, mormente na indesejada, ou quando o parto ocorreu prematuramente. Também, pode falar por uma insegurança da mulher, como mãe ou como pessoa.
Assim, diante dessa consagrada queixa, deve o pediatra ser cauteloso para diferenciar a real falta de apetite – causada por doenças orgânicas ou psicológicas – de uma situação imaginária da mãe.
A doença orgânica mais relacionada com a falta de apetite na infância é a infecção urinária. E geralmente a criança exibe palidez da pele e a mãe refere perda de peso nos últimos dias. Isto é suficiente para o pediatra se apressar em solicitar o exame de urina Tipo I, muitas das vezes já pedindo a urocultura com antibiograma também.
Quando confirmado o diagnóstico de infecção, logo o tratamento é instituído e a medicação é escolhida entre aquelas sugeridas como sensíveis pelo antibiograma.
Após trinta dias do término da antibioticoterapia os exames são repetidos e, quando continuamente negativos durante dois anos, conclui-se como cura completa do processo infeccioso.
A falta de apetite por questões psicológicas está associada a sentimento de rejeição, pouca atenção recebida, ausência física da mãe ou do pai ou de outra pessoa do seu ambiente familiar, com quem mantenha razoável vínculo afetivo. A criança maior pode usar desse expediente para chamar a atenção ou para denotar alguma insatisfação pessoal.
De qualquer forma, vale ressaltar que, como qualquer queixa pertinente à criança, deve a falta de apetite ser levada em consideração, independentemente daquilo que venha parecer ao médico, pois a boa relação médico-paciente é fundamental para o êxito final do tratamento e o reconhecimento da sua postura ético-profissional.
Converse e confie no seu médico.
Sebastião Saraiva
Médico e Holósofo