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78 – O PERDÃO
Publicado em 01/03/2008
A vida é um caminhar rumo ao aprimoramento. O aprimoramento para a totalidade, não para a perfeição. A totalidade é uma dimensão possível e saudável, a perfeição é um ponto inatingível, um objetivo neurótico, como dizia Osho.
Enquanto caminhamos, realizamos grandes feitos e construímos muitos amigos, mas, também, cometemos vários equívocos e magoamos pessoas. E esta realidade está presente na vida de todas as criaturas.
Logo, todos nós precisamos manter acesa, internamente, a chama que ilumina a nossa consciência para, desse modo, reconhecermos o quanto devemos pedir perdão em alguns momentos e sabermos perdoar em outros. O exercício da reflexão nos auxilia muito nessa direção, mas é a meditação que, finalmente, nos convence.
A meditação enaltece o altruísmo em detrimento ao egoísmo, e faz com que o indivíduo conheça a humildade. Essa humildade, uma vez conhecida, tornar-se-á uma companheira inseparável. É no ventre da humildade que nasce o amor.
O amor é a tela na qual projetamos o nosso perdão, tanto o nosso perdão concedido quanto o nosso pedido de perdão.
Portanto, a dificuldade de pedir perdão ou a resistência em perdoar denuncia a escassez de amor da pessoa. E essa escassez de amor deve ser conscientizada para que o indivíduo não interrompa o seu aprimoramento enquanto vive.
A conscientização da escassez de amor deixa o indivíduo menos leviano e com novas posturas mentais, principalmente diante de figuras de sua reverência e admiração.
É nas ocasiões em que nos dirigimos ao Pai que temos a necessidade de sermos verdadeiros, sinceros e honestos, falando aquilo que realmente venha corresponder à verdade.
Quase sempre nos deparamos com pessoas, nas casas de oração, rezando o “Pai Nosso”, o que é muito louvável. Contudo, constatamos facilmente o quanto essas pessoas não se dão conta do que estão falando. Elas parecem apenas repetir as palavras que compõem a oração, mas não demonstram o compromisso com aquilo que falam. Assim, não crescem.
O “Pai Nosso” tem um trecho que exprime a responsabilidade e o compromisso implícitos nas palavras do orador diante de Deus: “… perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido….”
Se o religioso tem consciência do que diz, e procede igual, deve prosseguir rezando o “Pai Nosso” e se sentir uma pessoa digna e amorosa, mas se não a tem o ideal será escolher uma reza menos comprometedora, pelo menos até atingir a coerência entre o falar e o fazer.
Enganar a si e aos semelhantes, apesar de feio, é possível. Enganar a Deus é uma tentativa insana e sem sucesso.
Talvez essa postura nada verdadeira e de pouca consideração com Deus seja a razão de alguns pedidos também não considerados. Deus é, naturalmente, bom, mas é justo.
Sebastião Saraiva
Médico e Holósofo